A Matinta Pereira, também conhecida como Mati-Taperê, é uma personagem do folclore da região norte do Brasil. É representada por […]
O interior e suas criaturas bizarras: a lenda de Matinta Perera
A Matinta Pereira, também conhecida como Mati-Taperê, é uma personagem do folclore da região norte do Brasil. É representada por uma mulher idosa e assustadora que veste uma roupa escura e velha. A lenda conta que Matinta passa as noites e madrugadas pelas ruas assoviando de forma estridente, amedrontando as pessoas.
De acordo com a lenda, uma forma de não ser perturbado pela Matinta seria oferecendo a ela, no dia seguinte, algum tipo de alimento (café, peixe, cachaça) e tabaco (fumo). Desta forma ela deixaria de assustar as pessoas da casa, parando de assoviar. Caso contrário, ficaria assoviando todas as noites nas proximidades da casa.
Em algumas regiões do Norte do Brasil, a Matinta aparece com um pássaro escuro que a ajuda a assustar as pessoas, assoviando de forma assustadora e levando azar por onde passa. Em outras versões da lenda, ela possui a capacidade de se transformar em um pássaro.
Aprisionando a Matinta
Diz ainda a lenda que, a única forma de aprisionar a Matinta é executando alguns rituais: enterrar no chão (local onde passa a Matinta), à meia-noite, uma tesoura aberta com um terço e uma chave. Quando a Matinta passar por cima ficará presa.
A Matinta Pereira, também chamada de Matinta Perera, é mais uma lenda do rico e interessante folclore da região amazônica brasileira. Foi possivelmente criada há muitos anos e ainda é passada de geração para geração até os dias de hoje.
Origem
Não se sabe ao certo a origem da lenda, muitos dizem que se trata de uma feiticeira que usa da magia para se transformar em Matinta. Os mais velhos diziam que a sina de transformação seria hereditária, ou seja, passaria de mãe para filha. No caso de não haver herdeira para a sina Matinta, a dona da maldição se esconde na floresta e espera que uma mulher passe por lá. Quando uma mulher finalmente passa, então ela pergunta: “quem quer?”. Se a moça responder: “eu quero!”, então ela se torna ainda naquela noite a Matinta Perera.
Versões
Nas cidades amazônicas existem duas versões para a lenda da Matinta: a primeira é que ela se transforma em uma coruja rasga-mortalha ou num corvo. Já a outra versão diz que ela veste uma roupa preta – que lhe cobre todo o corpo -, dando-lhe nos braços uma espécie de asa para que possa planar sobre as casas.
Armadilha
Há quem diga que existe um jeito de prender a Matinta e os materiais são simples: uma tesoura, uma chave comum, um rosário bento e uma vassoura virgem. A chave deve ser enterrada e a tesoura fincada em cima do local, o rosário se põe por cima da tesoura. Toda Matinta que passar por ali ficará presa, mas depois que ela for libertada, deve-se varrer o local com a vassoura para que a sina não se espalhe. Outra versão diz que ela não pode ouvir o nome de qualquer deus enquanto estiver transformada, pois se não o feitiço acaba, já que, sendo uma bruxa, ela não possui uma religião.
Cancioneiro popular
O repentista Teobaldo Patacho, mestre do cancioneiro popular paraense, transforma em versão da canção “Paixão Cabeluda” (Do álbum Pára no Pará, de 1987) a lenda regional do casamento atribulado entre a atormentada Matinta e o deslizante Boto. Segundo as versões mais populares, a união foi desfeita pelo boto, por não aturar o cheiro de cachaça e de fumo com que a esposa chegava em casa todas as noites, mas também é comum se encontrar versões relegando à jovem Matinta o fim das núpcias, dado que o Boto era de procurar jovens donzelas à beira do Rio Guamá.
Carnaval
No ano de 2015, a lenda foi mencionada no enredo da São Clemente “A incrível história do homem que só tinha medo da Matinta Pereira, da tocandira, da onça pé de boi”, uma homenagem ao carnavalesco Fernando Pamplona.

Amazonenses relatam ‘causos’ sinistros
“Voltavam de uma festa tarde da noite, quando ouviram um forte assobio, daqueles que fazem qualquer um tremer de medo, e sem hesitar gritaram: – Matinta Perera, vem buscar teu tabaco! E mais que depressa correram fugindo mata afora”. Entre risos, contou a jornalista amazonense Adália Marques. “Essa é a parte de uma das estórias que meu pai contava quando eu era criança”.
O imaginário caboclo é repleto de lendas e causos encantadores, que muitas das vezes chegam a assustar os mais jovens. Muitas dessas lendas são passadas de geração em geração e fazem parte do senso comum da população. Conforme explica o historiador João Pinheiro, “as lendas não possuem um contexto histórico que a tornem real, apenas os relatos daqueles que dizem ter vivido ou que ouviram alguém contar”.
Matinta Perera, como conta o historiador, é uma das lendas que seguem não só no interior do Amazonas, mas também entre os moradores mais tradicionais da capital. Ele diz que, em alguns lugares, acredita-se que existem velhas com o poder misterioso de se transformar na ave “Rasga Mortalha” e que a noite saem assobiando, anunciando mal presságio. Para não acontecer nada de ruim, o caboclo corajoso oferece tabaco. No dia seguinte, uma senhora vestida em trapos, bate na porta em busca do fumo prometido.
João Pinheiro relata que a lenda da Matinta Perera possui várias versões: Uma trata da estória de uma ave branca conhecida popularmente como “Rasga Mortalha”, que voa por diversos lugares e, segundo a crendice popular, quando ela pousa em uma casa e assobia fortemente é um aviso de que alguém daquela residência irá morrer.
Outra versão quem nos conta é o Nemésio Damasceno, de 75 anos, morador da Comunidade Aninga, em Parintins. “Na mata, durante a noite, é possível ouvir alguns barulhos impossíveis de identificar de onde surgem. Um assobio forte e estremecedor é sinal de que a Matinta Pereira está na região. Os mais antigos contam que devemos oferecer tabaco, pois o assobio é sinal de que algo muito ruim irá acontecer. Ao oferecer o fumo, na manhã seguinte é dito e certo, que alguém irá buscar. Por isso se você prometer, terá que cumprir”.
Damasceno conta que já esteve bem próximo da criatura. “Há muito tempo, quando não tinha energia elétrica na comunidade, eu e meu primo estávamos em uma casa. Era noite, não me recordo bem a hora. Apagamos a lamparina e ouvimos um barulho estranho, sentimos a presença de um vulto. Acendemos a lamparina olhamos tudo e nada, apagamos novamente e só senti aquela ‘lambada’ no couro. ‘Pá’! Com certeza era a bendita da Matinta!”, contou.

Mais um relato pra lista
Relato enviado por Richard Dylan Silva – “Não sou muito de acreditar em criaturas monstruosas e espíritos, mas quando nos deparamos com uma situação incontestável é difícil não crer. No primeiro passeio que fiz com minha família ao interior de Vigia, no Pará, passei por uma dessas situações. Eu estava um pouco cansado e, por isso, me deitei cedo na rede do lado de fora da casa.
Antes de dormir, ouvi algumas histórias de familiares, que as narravam para meter medo ou crendice nos mais jovens – fato que aquilo não me assustou em nada, mas fiquei curioso em ouvi-las até o final.
A história que contaram era sobre uma suposta velha que, por causa de uma maldição, todas as noites se contorcia, ganhava um aspecto horrendo com os cabelos jogados para frente, escondendo a face, e caminhava entre as matas.
“Que história mais sem noção”, eu disse. Então me preparei para dormir. Após um vento frio, me espantei de madrugada. Quando me levantei da rede, pude sentir um clima estranho – notando que, agora, o único som que eu escutava era o que vinha da mata que nos rodeava.
Entre alguns assobios de pássaros, teve um que se destacou. Demorei um pouco para notar, mas esse assobio era detalhadamente como na história que contaram…
Na hora, eu pensei que poderia ser apenas um pássaro qualquer, mas, mesmo assim, fiquei relacionando com aquela história enquanto tentava dormir, deitado e com o olhar vazio para o teto. O assobio era exatamente como na história, e a cada vez ele ficava mais distante (segundo haviam contado, significaria que a Matinta estaria se aproximando), porém, não dei muita atenção, até que ouvi um grito enorme vindo do lado oposto ao que eu tinha me deitado.
O grito era como de um porco, só que com vocais humanos, algo tenebrante mesmo. Aquilo já não poderia ser mais a minha imaginação. O mais incrível é que ninguém acordou depois daquele grito enorme. Quando me levantei da rede, vi um vulto muito rápido correndo para a mata que estava à minha frente. Decidi que eu não dormiria mais naquela noite e fiquei encarando a mata pelo restante de tempo até o amanhecer.
Imaginação ou não, eu vi um rosto de uma mulher já de idade retribuindo o olhar da mata. Ela não tinha muitos aspectos sociáveis, era como um animal com olhar assustado. Ela estava lá, como um ser quadrúpede, apenas me olhando…
E desde esse dia eu tento não ser tão cético. Acredito que a vida é muito curta para ser limitada apenas ao que é humano.”
*Fontes de pesquisa: Sua Pesquisa.com | Wikipédia | Portal Em Tempo