Durante a Guerra Fria, a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) desenvolveu um programa chamado MK-Ultra. O objetivo principal […]

Reprodução BBC

MK-Ultra: O programa secreto da CIA para controlar a mente humana

Durante a Guerra Fria, a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) desenvolveu um programa chamado MK-Ultra. O objetivo principal desse projeto era explorar técnicas que pudessem possibilitar o controle do comportamento humano e a obtenção de informações através de métodos diversos.

Iniciado nos anos 1950, o programa MK-Ultra envolveu uma série de experimentos com o uso de substâncias químicas, técnicas de hipnose, privação sensorial e outros métodos para investigar a manipulação da mente. O interesse da agência estava em descobrir formas de influenciar pessoas.

Métodos Utilizados

Entre as técnicas aplicadas no programa, destacam-se:

Uso de substâncias químicas

Foto: Drug Enforcement Administration/EUA/Divulgação
  • LSD (ácido lisérgico dietilamida): Principal droga investigada no programa, o LSD foi testado por sua capacidade de alterar a percepção, a consciência e o comportamento. A CIA acreditava que ele poderia ser usado para induzir confissões, controlar pensamentos e modificar a vontade das pessoas.

Hipnose

A hipnose foi estudada para entender se seria possível implantar sugestões ou controlar a mente humana de maneira consciente e inconsciente. Pesquisas foram realizadas para avaliar se a hipnose poderia ser uma ferramenta eficaz de controle mental.

Privação sensorial e isolamento

Técnicas de privação sensorial, como a privação do sono, isolamento em ambientes escuros e silenciosos, foram usadas para quebrar a resistência mental dos indivíduos, deixando-os mais suscetíveis à manipulação.

Estimulação elétrica e métodos físicos

  • Aplicação de choques elétricos no cérebro e outras formas de estimulação física foram testadas para influenciar o comportamento e a memória.
  • Pesquisas envolveram eletroconvulsoterapia (ECT) em níveis variados, em busca de métodos para “reprogramar” o cérebro.

Participantes e vítimas dos experimentos

Os experimentos foram realizados em vários grupos, incluindo:

  • Voluntários conscientes: Alguns participaram sabendo que estavam em testes, embora muitas vezes sem a informação completa sobre os riscos envolvidos.
  • Pacientes psiquiátricos: Muitos dos experimentos foram realizados em hospitais psiquiátricos, com pacientes que não tinham conhecimento sobre os testes a que eram submetidos.
  • Prisioneiros e pessoas em outras situações vulneráveis: Em alguns casos, pessoas em prisões ou sob custódia foram alvo dos experimentos.
Relato de um paciente em seu 37° dia de sonho químico; ele havia recebido 15 eletrochoques e drogas por resistir ao tratamento.
Foto: BBC

O sigilo e a destruição de documentos

Até meados da década de 1970, o programa MK-Ultra foi mantido em completo sigilo. Em 1973, o diretor da CIA, Richard Helms, ordenou a destruição de grande parte dos arquivos relacionados ao programa, numa tentativa de ocultar evidências e limitar o impacto público.

Apesar disso, milhares de documentos sobreviveram e foram liberados posteriormente após pedidos da Lei de Liberdade de Informação (FOIA), permitindo que pesquisadores e o público tivessem acesso ao conteúdo e aos detalhes do programa.

O MK-Ultra veio à tona publicamente em 1975, durante investigações realizadas pelo Congresso dos Estados Unidos, através da Comissão Church, nomeada após o senador Frank Church, que liderou as audiências.

Essas investigações revelaram detalhes alarmantes sobre os métodos empregados, o sigilo extremo do programa e os riscos para a população civil. As audiências contribuíram para o debate sobre ética em pesquisas científicas, vigilância governamental e controle das agências de inteligência.

Impactos e legado do MK-Ultra

  • Muitas técnicas investigadas influenciaram posteriormente estudos em psicologia, neurociência e medicina.
  • O programa se tornou referência em discussões sobre ética científica, direitos humanos e transparência governamental.
  • Além disso, MK-Ultra serviu como inspiração para diversas obras culturais, incluindo filmes, séries e livros que abordam temas de manipulação mental e controle de comportamento.
  • O programa envolveu pesquisas em mais de 80 instituições, incluindo universidades e hospitais.
  • Apesar da destruição de muitos arquivos, os documentos sobreviventes somam milhares de páginas, detalhando experimentos e protocolos.
  • O MK-Ultra influenciou não apenas a ciência, sendo tema de documentários, livros e filmes como “The Men Who Stare at Goats” e episódios de séries como “Stranger Things”.

Fontes: Coleção MK-Ultra no site da CIA | Relatório da Comissão Church (1975

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