O manual da heterossexualidade

O que diferencia um homem gay de um homem delicado, ou uma lésbica de uma garota rude?

A sociedade se mantém conservadora até mesmo quando passa o exemplo errado, pois se um homem não gosta de futebol, e prefere dançar,  já é logo taxado de gay, ele não pode ser simplesmente um homem que não é chegado a futebol por achar ridículo todo aquele fanatismo do famoso “amor pelo clube de coração!” e que isso é paixão nacional.

Se esse mesmo homem não frequenta casas noturnas e nem vai aos puteiros, talvez seja porque ele se sinta mais confortável frequentando ambientes sociais cultos, prefere passear nas praças, comer em restaurantes discretos, namorar de portão como a moda antiga, curtir uma boa música e gosta de conversar antes do sexo, é só uma opção que ele escolheu. E por ele gostar de tudo isso será que ele é viado?

Se uma garota tem mais facilidade em fazer amizades com homens, a sociedade já dita; ou ela é lésbica ou é piranha. Se ela gosta de usar calças mais frouxas e camisas largas também já fica mal vista, porque a lei é usar sempre mini shorts ou saias justas para de vez em quando exibir sua calcinha, e é claro, as blusinhas com barriguinha de fora e decotes ousados que serão as marcas de sua feminilidade. Se ela não se vestir assim e ainda gostar de futebol fica pior, pois estará assumindo a sua homossexualidade, ela não pode ser simplesmente uma garota que gosta de roupas confortáveis, pois tem seu estilo próprio e faz mais amigos homens pela naturalidade do seu comportamento.

Se ela gosta de jogar futebol, é porque não quer ser como as outras garotas que choram de dor quando quebram uma unha, que não saem de casa sem maquiagem, ou quando o batom está fora de moda. Ela se orgulha de não precisar correr dos chuviscos com medo de desmanchar o penteado, e nem por isso deixa de ser menos feminina que as outras. Mas pra sociedade ela vai ser só mais uma garota com problemas psicológicos e de crise existencial ou mesmo apenas mais uma machuda.

O homem evoluiu sua capacidade de julgamento, são os reis na arte de condenar, por isso criticam cor da pele, religião, forma de penteado, classe social, vestuário, as qualidades, os defeitos e principalmente o desejo sexual. o ser humano muitas vezes tem que viver sobre a pressão de nunca desviar seus modos, ou seja, o instinto de macho e fêmea, homem e mulher, lei básica para ser aceito, ou seja, o homem tem que comer, a mulher tem que dar e ponto final! Se um homem buscar algo diferente na vida, que fuja de todos os padrões comuns da sociedade babaca julgadora, ele vai sofrer preconceitos pelo resto da vida, e muitas vezes acabará se tornando realmente naquilo que a sociedade hipócrita o julgou ser, condenando-o a morte, ao inferno e muitas vezes acabam fazendo com que o suicídio seja a última saída, uma vida perdida por causa dos preceitos sociais em definir opções sexuais e individuais impostas por conservadores imorais, que não sabem diferenciar amor e prazer!

Ainda mais quando se propaga um vitimismo em quase tudo para justificar fracassos, onde ser diferente ou pensar diferente é ser vítima da maioria, sem perceber que a maioria dita as regras, e deve ser assim numa democracia, mas cada um individualmente segue essas regras do seu jeito procurando tirar o melhor proveito, pois  já temos fatos históricos que quando isso se inverte é uma catástrofe, ou seja, quando a minoria dita as regras sobre a maioria, todos pagam um preço caro. Então cabe a cada um viver da maneira que achar melhor e gozar a vida como achar que será inesquivável, sempre se impondo e nunca se omitindo, pois acima de qualquer gênero ou gosto, primeiramente somos humanos!

No manual dos conservadores quem é o responsável em preparar o jantar, lavar os pratos, arrumar a mesa, pagar as contas, dirigir o carro, trabalhar, gastar, ficar em casa, levar os filhos na escola, ou entrar na faculdade?

– No beijo, quem deve dar a língua? E no sexo, quem tem que ficar por cima?

*Sid Sheldowt é compositor, poeta e escritor. Autor do livro Apocalipse Tribal.