O mês de setembro chegou ao fim, contudo, é fundamental que a campanha Setembro Amarelo permaneça e tome cada vez […]
É preciso falar de suicídio para combatê-lo
O mês de setembro chegou ao fim, contudo, é fundamental que a campanha Setembro Amarelo permaneça e tome cada vez mais os espaços públicos para que a prevenção ao suicídio seja uma luta diária de cada brasileiro. O tempo é oportuno para discutir cada vez mais sobre esta prática que cresce vertiginosamente ano a ano. Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que mais de 800 mil pessoas tiram a vida por ano em todo o mundo.
De acordo com o relatório do Ministério da Saúde (MS), o número de suicídio no Brasil cresceu cerca de 2,3% entre os anos de 2016 e 2017, ou seja, um brasileiro tira a própria vida a cada 46 minutos, o que torna esse fato ainda mais preocupante.
Ainda conforme o órgão federal, o suicídio é a quarta causa de morte entre jovens brasileiros de 15 a 29 anos. Neste cenário, os homens têm se mostrado mais vulneráveis. O suicídio entre pessoas do sexo masculino vem se tornando a terceira maior causa das mortes, ganhando a oitava posição entre pessoas do sexo feminino.
Amazonas
No ano de 2017, a média de suicídio no Amazonas é de um caso a cada dois dias. Ao todo, foram contabilizadas 186 mortes. O Estado receberá do MS cerca de R$ 220 mil para a execução, a partir de novembro deste ano, do Plano de Prevenção ao Suicídio e Valorização da Vida. Os recursos para implantação do projeto foram liberados em maio, após aprovação da Rede Estadual de Atenção Psicossocial (Raps).
Manaus, São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga são consideradas cidades prioritárias na execução da estratégia pelo número de casos que registraram. Somente na capital, cerca de 89 mortes foram registradas. No interior do estado, o índice se mostra relativamente menor, porém, não menos preocupante: São Gabriel da Cachoeira apresentou 17 casos de suicídio; Tabatinga registrou 7.
Projeto social
O plano está em fase de implantação pela Secretaria de Estado da Saúde (Susam) com ações de capacitação direcionadas aos profissionais do setor. O projeto, recentemente aprovado pelo MS, conta com a parceria da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Instituto Federal do Amazonas (Ifam) e os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) de São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga.
Uma das primeiras atividades a serem desenvolvidas no projeto será a qualificação dos profissionais da saúde, que acontece a partir de novembro O trabalho será conduzido por especialistas do Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam).
Mulheres
Conforme levantamento do Ministério da Saúde, divulgado no dia 20 de setembro, a taxa de mortalidade por suicídio entre mulheres em todo território amazonense, no período de 2007 a 2016, subiu para 88,3%. Outros estados brasileiros também relataram alta como Rondônia (65,5%) e Alagoas (45,8%).
Pessoas do sexo feminino representaram quase 70% – cerca de 153.745 – do total de tentativas de suicídio no país por intoxicações exógenas (envenenamento) nesses 11 anos. Sobre os agentes tóxicos utilizados, os medicamentos correspondem a 74,6% das tentativas entre as mulheres e 52,2% entre os homens. As intoxicações exógenas resultam em 4,7% de óbitos em homens e 1,7% nas mulheres.
Tal levantamento revela que as mulheres também iniciam mais cedo a tentativa de suicídio por intoxicação exógena, com ápice de casos entre os 10 e 20 anos de idade. Entre os homens, a maioria dos casos acontece entre os 18 e 25 anos.
Análise e fatores
“As regiões Norte e Nordeste são as que têm menores taxas de suicídio. Por outro lado, os estados nessas regiões são os que mais estão aumentando as taxas. O que a gente quer, no fim das contas, é chamar a atenção para que haja um investimento maior nesses estados, na tentativa de conter o avanço”, afirmou Fátima Marinho, diretora do Departamento de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis e Promoção da Saúde (DANTPS), durante a coletiva realizada em Brasília (DF).
Segundo Fátima Marinho, o aumento de casos de mortes por suicídio entre pessoas do sexo feminino ainda estão sendo analisados. A gestora informou ainda que o meio social pode influenciar nesses dados, já que o desemprego é um fator de risco. “Apesar do sistema reportar mal se era alguém com emprego e carteira assinada, podemos captar dados de que em 52% dos casos, o desemprego desponta como principal fator atrelado às tentativas de suicídio. É algo a ser melhorado e discutido”, ressaltou.
Existem outros determinantes sociais que estão sendo averiguados, como por exemplo, a violência contra a mulher, especialmente em adolescentes e crianças, por conta das dores emocionais causadas em situações como essas. Uma das soluções em análise pelo Ministério da Saúde, ao fazer políticas públicas sobre o suicídio, é de dificultar o acesso a venenos, raticidas, remédios e dosagens.
Onze mil mortes registradas por ano no Brasil
O suicídio é um fenômeno complexo e multifacetado, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, classes sociais, idades, orientações sexuais e identidades de gênero.
Atualmente, a média nacional de suicídios no Brasil, em todas as idades, é de 5,5 por 100 mil habitantes. Ou seja, em média são registradas 11 mil mortes por ano no país.
Quando verificado por faixa etária, os idosos são os que mais preocupam, pois as taxas subiram para 8,9 mortes por 100 mil somente nos últimos seis anos. Envenenamento e intoxicação são os meios mais utilizados e os homens são os que mais morrem por suicídio, onde 60% deles são solteiros. A região sul concentra 23% dos suicídios, enquanto a sudestes aponta 38%.
Depressão
Para a psicóloga Fernanda Lobão, os temas suicídio e depressão ainda são bastante banalizados. Perante boa parte da sociedade, o suicídio é visto como sinal de fraqueza. “As pessoas sempre colocam o argumento de que isso é frescura, e essa é uma das doenças mais sérias que existem. O suicídio é um sintoma e, muitas vezes, não é levado a sério pelos amigos e família. É um pedido de socorro”, salientou.
Para a psicóloga, a sociedade tende a ver a pessoa depressiva como alguém triste ou que se isola no quarto para chorar – o que, na maioria das vezes, não corresponde com a realidade das vítimas da doença. “Sobre a questão da depressão, a sociedade tem uma ideia de que a pessoa depressiva é sempre aquela que vive chorando muito, fica trancada no quarto, que não toma banho e não sente vontade de comer. Ainda que existam casos assim, existem também aqueles que trabalham e saem com os amigos para se divertir, que tem um relacionamento, ganham bem…”, avaliou. “E quando ocorre o suicídio, nesses casos em específico, geralmente as pessoas ficam perplexas e sem saber o que pensar”, acrescentou Lobão.
Segundo ela, pessoas que sofrem de depressão e estão próximas de cometer suicídio, geralmente, não externalizam o problema para os familiares e amigos por conta do receio de serem banalizadas.
Causas
Para Fernanda Lobão, as principais causas que levam uma pessoa a sofrer de depressão estão relacionadas a traumas do passado, estrutura de personalidade, relacionamentos e pressão no cotidiano. “As cobranças da sociedade rotulam a forma como você tem que ser e agir. Logo, achamos que só podemos ser felizes se nos encaixarmos neste rótulo que a sociedade nos impõe. Uma pessoa que se encontra nessas condições de vulnerabilidade, quando faz uma auto-avaliação e percebe que não está dentro desse esteriótipo, tende a piorar”, afirmou a psicóloga.

Auto mutilações
Durante a entrevista, Fernanda também falou sobre o fator da auto mutilação. “Quando alguém que sofre de depressão chega a se auto mutilar, faz aquilo para externalizar, na tentativa de aliviar a própria dor. É um ensaio para o suicídio”, explicou.
Setembro Amarelo
A campanha Setembro Amarelo foi instituída no Brasil em 2016 e, desde então, vem ajudando a sociedade a ter um olhar mais sensível para as causas que levam alguém ao suicídio. De acordo com os dados apresentados pelo Ministério da Saúde, essa é a quarta causa de morte entre os jovens do país. Segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) uma pessoa tira a própria vida no mundo a cada 40 segundos.
Contudo, ainda conforme a OMS, nove entre cada 10 pessoas com pensamentos suicidas tendem a vencer este mal a partir do momento em que buscam ajuda e fazem um intenso trabalho de prevenção. É um sinal de esperança para aqueles que já perderam praticamente tudo, ressaltando a importância de conversar sobre o assunto. Falar sobre suicídio pode quebrar barreiras e fomentar a prevenção, além de salvar muitas vidas.

Navima
O Núcleo de apoio à Vida de Manaus (Navima) é uma associação de direito privado e de caráter filantrópico, sem fins lucrativos ou econômicos e de duração indeterminada. Sede e foro, ambos estão localizados na capital amazonense.
A Associação tem, por fim, desenvolver e manter um Posto CVV de Prevenção ao Suicídio, segundo orientação do Centro de Valorização da Vida, Sociedade Civil sediada em São Paulo (SP), bem como desenvolver e manter outros trabalhos necessários ao desenvolvimento do Posto CVV de Manaus.
CVV
O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio, atendendo todos os dias, voluntária e gratuitamente, pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas. Para mais detalhes, acesse o site da CVV ou entre em contato através do número 188, caso você esteja precisando de ajuda.
Portanto, se você conhece alguém que sofre de depressão, não feche os olhos e muito menos condene. É fundamental apoiar as pessoas e motiva-las a procurarem ajuda.