No vasto campo de batalha que é o futebol, a seleção brasileira teve um combate a mais para travar. Não […]

Crônica: A Fé que Desafia As Sombras da Intolerância Religiosa
No vasto campo de batalha que é o futebol, a seleção brasileira teve um combate a mais para travar. Não contra um time adversário, mas contra as sombras da intolerância religiosa, que, de maneira repugnante, teceu suas teias nas redes sociais, mirando, desta vez, o atacante Paulinho, guerreiro do Atlético-MG.
Na última quinta-feira, o Brasil sofreu uma derrota acachapante perante a Colômbia, mas o resultado nos gramados não foi o único revés enfrentado por Paulinho. Sua estreia na seleção tornou-se palco de uma intolerância vil, materializada em ofensas lançadas contra sua fé no candomblé. Em um mundo onde a diversidade deveria ser celebrada como um gol, Paulinho foi chamado de “macumbeiro” em uma tentativa ignorante de menosprezar suas convicções religiosas.
Nos posts que deveriam ser um registro de conquista e orgulho, o jogador viu-se mergulhado em um mar de palavras venenosas. No dia 6 deste mês, ao expressar sua alegria por vestir a camisa verde e amarela, Paulinho proclamou: “Nunca foi sorte, sempre foi Exú.” Exú, no candomblé, é um orixá, um mensageiro espiritual. Uma declaração de fé que, em um mundo ideal, seria respeitada como parte da rica diversidade cultural do Brasil.
É triste constatar que, mesmo em um ano onde a esperança legislativa se fez presente, com a sanção da Lei 14.532/23 equiparando a injúria racial ao crime de racismo, as feridas da intolerância continuam abertas. As religiões de matriz africana, como o candomblé, são alvos recorrentes de ofensas e discriminação, como indicam os dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, que apontam um alarmante crescimento de 45% nos atos de intolerância religiosa nos últimos dois anos.
Paulinho, nesse cenário de sombras, torna-se um símbolo de resistência. Sua fé, mais do que nunca, é uma luz que desafia a escuridão da ignorância. Que sua jornada nos campos e fora deles inspire não apenas vitórias esportivas, mas uma transformação profunda na mentalidade de uma sociedade que, ainda em pleno século XXI, precisa aprender a respeitar a diversidade de suas próprias cores e crenças.
Sid Sheldowt é Escritor, Poeta e Compositor.