Fascistas perseguidores! Abaixo a Lei da ”Ficha Limpa” pelo direito do povo de escolher seus candidatos [ou candidato]. Opa, algo […]
Cegueira ideológica e a dicotomia da conveniência: o resultado do absurdo
Fascistas perseguidores! Abaixo a Lei da ”Ficha Limpa” pelo direito do povo de escolher seus candidatos [ou candidato]. Opa, algo não está soando bem.
Há poucos dias, certo Partido postou, em uma rede social, um comentário seguido de uma imagem e o “post” me chamou a atenção. Aliás, não só a mim, mais a milhares de internautas indignados. A chamada dizia: “Abaixo a Lei da Ficha Limpa. Pelo direito do povo de escolher seus candidatos”.
Na imagem estava a figura do ex-presidente Lula. Perturbador, não? Pensei, quase que instantaneamente: “Para onde estamos indo?”
Durante a última semana, o país viveu a expectativa de um ex-presidente da República ser julgado em segunda instância por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) rejeitou – por unanimidade – o recurso da defesa e manteve a condenação do ex-dirigente do Brasil, além de aumentar a pena [antes de 9 anos para 12 anos e 1 mês de prisão].
Imediatamente, após a decisão do TRF-4, surgiu nas mídias sociais um batalhão de defensores de Lula e outro favorável ao grupo de desembargadores responsáveis pelo julgamento. A turma de defesa alega que o julgamento não passou de uma grande farsa e que, no fundo, tudo não passa de perseguição política – uma vez que determinado grupo formado pela elite, mídia, adversários políticos e a Lava Jato, especialmente na figura do juiz federal Sérgio Moro, não quer que o ex-presidente participe das Eleições deste ano. Para eles, a operação tem um único intuito: “destruir Lula e o PT”. Do outro lado há uma única certeza: Lula tem que ser preso. Aqueles dizem que não há provas enquanto estes rebatem, alegando que as provas são extensas.
Tentando entender um pouco sobre o pensamento, especialmente daqueles que defendem os ex-mandatário do país, resolvi colher alguns dados da Lava Jato para analisar onde se fundamenta a posição dos militantes pró-Lula. O resultado me pareceu bem aquém das perspectivas, ou nem tanto. Achar um elo entre o real e o surreal não é tarefa das mais fáceis.
Números da Lava Jato
Até março de 2017, a operação Lava Jato já tinha realizado 91 prisões preventivas no Brasil e no exterior. Em agosto esse número subiu para 97, conforme consta no site da Polícia Federal. Ainda no mesmo mês daquele ano, os partidos com maiores números de investigados eram o PP (32), seguido do PMDB (10), PT (08), PSDB (03) e PTB (02). Logicamente, se tais números aumentaram ou diminuíram, infelizmente ainda não tive acesso aos dados atuais.
Dentre os presos estão Cabral, Cunha, Geddel, Eduardo Alves, os irmãos Joesley, um ex-presidente do Peru e outro do Panamá. Até o ano passado, em três anos, a operação ultrapassou as barreiras do país e aventurou-se em terras estrangeiras, além de prender políticos importantes e empresários. Contudo, existem grupos de pessoas alegando que tal operação não passa de perseguição a Lula. Não importa o número de provas existentes, essa parcela da sociedade tem convicção na inocência do ex-presidente.
Cegueira ideológica e dicotomia
Hoje o Brasil vive um momento turbulento do ponto de vista econômico, político e, principalmente, moral. Existem três polos que “dominam”, por assim dizer, a conjuntura política do país. De um lado, temos os que se declaram de “direita”; do outro, os que se autodenominam de “esquerda”; no meio, os típicos “isentões” [termo surgido nas redes sociais para denominar aqueles que não são nem de “direita” e nem de “esquerda”, nada formal, é claro…], aos quais prefiro chamar de “moderados” ou “centro”. Aí você pode fazer a seguinte pergunta: “E aí, o quê que tem?”
Bom, deixando os “moderados” para uma próxima oportunidade, a partir do momento em que os ânimos afloraram e as posições políticas dos diversos grupos sociais se tornaram verdadeiramente antagônicas, nasceu aquilo que costumo chamar de “cegueira ideológica”. Tal cegueira é fincada especialmente na conveniência. Quando me é conveniente, as leis devem ser seguidas, o governo é ótimo, o presidente é o melhor, tudo vai bem, obrigado… Quando não, é conveniente dizer que tudo isso não passa de farsa, perseguição política e que todo o resto não presta.
Pegando carona na “cegueira”, dicotomia é a divisão de um conceito em partes geralmente opostas [como o dia e a noite, por exemplo]. Também remete à separação. “A lei, quando está a favor do meu grupo, é clara e deve ser repeitada. Quando não, é obscura, fruto de farsa e perseguição”. Ou então, “se seu pensamento, filosofia e ideologia forem semelhantes às minhas convicções, fique do meu lado. Caso contrário, suma da minha frente, seu fascista!”
Em analogia ao joio e o trigo da passagem bíblica, separa-se o que é conveniente do inconveniente. Se tal relação serve para mim e meu gueto, ótimo. Venha para cá, você está no “reino dos céus”. Se não serve, “será jogado no fogo eterno, onde haverá choro e ranger de dentes”.
No fim das contas, a “cegueira” e a dicotomia, nesse caso, estão intrinsecamente ligadas à conveniência.
O resultado do absurdo
Voltando aos dados da Lava Jato citados acima, se tomarmos como base todas as condenações e prisões e, lógico, as alegações dos defensores de Lula, só podemos concluir que: todo esse povo preso e condenado não passa de pretexto para justificar a perseguição ao ex-presidente, sendo que este é o único inocente na história toda.
Se você achou bizarro tal resultado, espere até as próximas eleições para ver o que é deveras absurdo. Ah, e prepare o seu estômago!