Por: José Walmir Neste domingo, 13 de julho, comemorou-se o dia mundial do rock, uma semana após o mundo literalmente […]

Foto: Ross Halfin

Rock n’ roll: uma manifestação cultural para além da cultura convencional

Por: José Walmir

Neste domingo, 13 de julho, comemorou-se o dia mundial do rock, uma semana após o mundo literalmente parar para assistir à memorável (suposta) última apresentação do Black Sabbath em sua versão clássica, com Tony Iommi, Geezer Butler, Ozzy Osbourne e Bill Ward.

Sem qualquer dúvida, o Black Sabbah representa algo situado muito além da qualidade musical considerada pela crítica. Sendo gigantesco em termos de referencial, originalidade, alcance e influência cultural.

Nota-se que a banda de Birmigham surge em um mundo (1968), tal qual o de hoje, bastante polarizado e dividido entre um comunismo soviético impositivo e um capitalismo individualista ocidental. Ambos utópicos, que sob as premissas da modernidade, prometiam, cada um ao seu modo, libertar o indivíduo da maldição da dor, da desordem e da condenação eterna ao fogo do inferno judaico-cristão.

Para os jovens daquela geração, comunistas ou capitalistas, a luta principal era por mais liberdade com distanciamento da velha ordem político-militar das décadas anteriores, onde jovens que não se conheciam e não se odiavam eram orientados a matarem-se uns aos outros para defender as intrigas e as roubalheiras existentes entre a elite político-econômica que se conhecia, se odiava mas não sacrificava sua própria vida para defender seu status conservador: era muito mais fácil sacrificar a vida dos outros.

Imagem: Dia Dipasupil / Getty

Assim, cresce nos países centrais aquilo que se cunhou como “ideologia” contra cultural: uma cultura artística (literária, acadêmica e musical) fortemente direcionada contra a política de proliferação do ódio e da guerra em nome de terceiros. Além de questões relacionadas à própria liberdade individual, principalmente a sexual, expressa pelo movimento feminista que exigia para si mais orgasmos e menos filhos.

O Black Sabbath, assim como outras bandas do período (Iron Buterfly, Led Zeppelin, Deep Purple), surge avessa à tudo isso e, para ampliar o desespero da grande religiosidade tradicional, incorpora em sua musicalidade uma aversão declarada ao cristianismo ocidental, começando pelo próprio nome da banda que, mesmo sendo copiado de um filme de terror, incorpora o nome de uma das maiores celebrações do judaísmo.

Ainda, a banda expressa em suas músicas, e sem qualquer artimanha, as supostas mensagens satânicas que as bandas de rock n’ roll eram acusadas de mascarar em suas letras, quando malucos afirmavam ouvir discos de vinil em rotação contrária. Limitando a falácia de que o diabo se comunicava por “criptografia” com os fãs do gênero através de mensagens ocultas presentes naqueles discos.

Foto: Reprodução/Instagram/@blacksabbath

Do ponto de vista musical, provavelmente o Black Sabbath influenciou mais jovens a percorrerem uma carreira musical pautada em um rock mais pesado (heavy metal) do que os “pais” da economia computacional, Bill Gates, Steve Jobs, Nolan Bushnell etc. fizeram.

Nos anos 80 o grande sonho de milhares de jovens ao redor do mundo era construir em uma garagem uma banda do nível do Black Sabbath, ou um produto/serviço computacional de ponta, semelhante ao que Bill Gates (Microsoft) e o Steve Jobs (Apple) conseguiram.

A Sony conseguiu mudar a maneira de se ouvir música com o seu Walkman. A Nintendo transformou o mercado de consoles de videogame com jogos como Pac-Man, Super Mario Bros. A Motorola mundializou o DynaTac, o primeiro celular disponível ao público, enquanto a Toshiba percebeu um grande potencial em computadores portáteis.

Se nos anos 80 o mundo começava a massificar o uso de dispositivos computacionais, hoje conhecidos como tecnologias da informação, pelo lado musical, o mundo passou a conhecer bandas como o Metallica, Slayer, Sepultura, Titãs, Kreator, Sodom, Destruction, Iron Maiden e Napalm Death como fenômenos mundiais de um novo estilo musical que exaltava inequivocamente o Black Sabbath. E que trazia para seu público a ideia de comportamento semelhante aos conteúdos que as músicas expressavam, além da reverência aos ícones do heavy metal, como Dio, Bruce Dickinson, Bono Scot e, o maior de todos, o próprio Ozzy Osbourne, vocalista e fundador do Black Sabbath.

Arte: Wikimetal.

Passados quase 60 anos após os primeiros gritos paranoicos, o show de despedida do Black Sabbath foi um reconhecimento merecido a alguns dos principais indivíduos responsáveis pela criação de um dos gêneros musicais mais representativos e cultuados das últimas 4 décadas.

Enfim, se hoje já não se ouvem músicas em walkmans, se os videogames da Nintendo vendem pouco ou se a Nokia sumiu do mapa, o Black Sabbath continua presente na vida e nas ideias de milhões de pessoas ao redor do mundo, que como eu, conectam-se com a originalidade que suas músicas exprimem e expressam.

*José Walmir é Mestre em Gestão & Liderança e Escritor.

 

 

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