O tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu (PR) na última sexta-feira, 7 de novembro, durou apenas alguns minutos, mas […]

Rio Bonito do Iguaçu: risco de tornado era conhecido, mas Defesa Civil não informou
O tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu (PR) na última sexta-feira, 7 de novembro, durou apenas alguns minutos, mas foi o suficiente para matar ao menos seis pessoas, ferir centenas e destruir 90% da cidade. O prejuízo foi estimado em mais de R$ 114 milhões pela Confederação Nacional de Municípios (CNM). Muitas dessas perdas poderiam ter sido evitadas se a gestão do município e a população tivessem conhecimento do que poderia acontecer naquele dia.
Serviços de meteorologia já citavam o risco de tornado na manhã da sexta-feira. O grupo de meteorologistas independente Prevots publicou boletim colocando a região onde fica Rio Bonito do Iguaçu em nível 4 de severidade, o mais alto da escala utilizada. O texto alertava para “um risco elevado de tornados”. Já o MetSul alertou, no mesmo dia, para risco de tempestades severas na região Sul, inclusive “com danos semelhantes aos de um tornado”.
Segundo a administração pública do município, não houve aviso do risco, tampouco orientações de como reagir em uma situação como aquela. “Tinha a previsão de dois dias antes, avisando que na sexta-feira viria um temporal para essa região. Mas era, a princípio, um temporal, nunca ninguém falou sobre tornado. A gente foi avisado com relação à tempestade, chuvas, mas não dessa grandiosidade”, diz o porta-voz da prefeitura, Alex Garcia, à Agência Pública.
A Defesa Civil do Paraná confirma a informação. Segundo o responsável pela comunicação do órgão, capitão Marcos Vidal, foram emitidos alertas sobre a possibilidade de “tempestades mais intensas” na região a partir de terça-feira. Com a proximidade do evento, ele diz, a informação foi replicada para as regionais da Defesa Civil, que repassam para os municípios da região. O evento, no entanto, “foi além dos níveis que poderiam ser esperados”, pondera.
Com 14 mil habitantes, a maior parte morador da zona rural, Rio Bonito do Iguaçu não tem Defesa Civil operante para reagir às informações emitidas pela central. O servidor que consta como coordenador da Defesa Civil no plano de contingência municipal, Eder Marcelo Mohr, é assistente administrativo concursado e ocupou cargos como de assessor de comunicação. À Pública, Alex Garcia afirmou desconhecer a existência de um plano de contingência no município, que “nunca tinha passado por uma situação igual a essa”. A cidade fica a cerca de 400 km da capital Curitiba e a 120 km de Cascavel, principal município do sudoeste do estado.
“O tornado em Rio Bonito expõe um vazio de governança preventiva”, afirma Murilo Noli da Fonseca, doutor em Gestão Urbana pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
“A falha não foi na previsão em si, mas na forma como o alerta circulou socialmente. Nós temos hoje instrumentos meteorológicos muito sofisticados, radares, modelos numéricos, sistemas de alerta, mas o que falta basicamente é conseguir transformar esses sinais técnicos em ação social preventiva”, aponta Fonseca, que tem entre seus objetos de pesquisa a “comunicação e percepção de risco” e “redução de vulnerabilidades urbanas frente às mudanças climáticas”.
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