Trinta dias após os primeiros nove casos suspeitos de intoxicação por metanol em bebidas, registrados em 26 de setembro, órgãos […]

Metanol: crise completa um mês com alerta para falsificação de bebidas
Trinta dias após os primeiros nove casos suspeitos de intoxicação por metanol em bebidas, registrados em 26 de setembro, órgãos públicos intensificaram medidas de controle. A testagem de casos suspeitos passou a ser mais rápida, permitindo confirmar ou descartar ocorrências em ritmo acelerado.
Hospitais pólo foram organizados, inclusive em estados das regiões Norte e Centro-Oeste, mesmo sem registros confirmados de contaminação local. Os Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) lideraram a detecção dos casos, enquanto vigilâncias sanitárias e polícias atuaram nos pontos de venda e consumo das bebidas.
Apesar de não conseguir evitar todos os novos casos, a origem provável foi identificada: a falsificação de bebidas alcoólicas utilizando álcool combustível adulterado, que continha metanol. Dos casos inicialmente divulgados pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), após alerta do Ciatox de Campinas, até a localização dos postos de combustíveis que forneceram o álcool adulterado no ABC paulista, passaram-se vinte dias. Nesse período, foram confirmados 58 casos de intoxicação e 15 mortes, a maioria em São Paulo.
Ainda não há confirmação se os casos em outros estados, como Paraná e Pernambuco, estão ligados às mesmas bebidas falsificadas da região metropolitana de São Paulo. Desde o alerta inicial, em 26 de setembro, o Ciatox atribuía os casos ao consumo de diferentes tipos de bebidas destiladas adulteradas, classificando-os como fora do padrão esperado para um período tão curto.
O caso só ganhou espaço significativo na mídia na semana seguinte, quando estados começaram a mobilizar vigilâncias sanitárias, Procons e polícias. Em 7 de outubro, o governo federal criou um comitê para coordenar a resposta, enviou nova remessa de etanol farmacêutico aos hospitais pólo e adquiriu o antídoto fomepizol, visando reduzir os impactos das intoxicações.
No dia 8, o Instituto de Criminalística de São Paulo confirmou que o metanol nas garrafas examinadas havia sido adicionado de forma deliberada, em concentração anormal para processos de destilação natural. No dia seguinte, a Polícia Técnico-Científica do estado adotou um protocolo mais rápido de identificação de bebidas adulteradas, enquanto equipes de fiscalização recolhiam cada vez mais amostras das autuações.
São Paulo conta com dois centros de excelência: o Ciatox de Campinas e o Laboratório de Toxicologia Analítica Forense (Latof) da USP em Ribeirão Preto. A atuação integrada permitiu respostas mais rápidas dos laboratórios e reduziu o impacto no comércio, que registrou queda de até 5% no consumo em setembro, segundo a Abrasel.
Em 17 de outubro, uma operação da Polícia Civil localizou os dois postos que distribuíram o combustível com metanol, após um caso grave de intoxicação no bairro da Saúde, na zona sul de São Paulo. Dias antes, a distribuidora de bebidas que envasava os produtos falsificados já havia sido identificada. “O primeiro ciclo foi fechado. Vamos continuar as diligências para identificar a origem de todas as bebidas adulteradas no estado”, afirmou o delegado-geral Artur Dian.
Enquanto as investigações continuam, universidades desenvolveram soluções rápidas, como o “nariz eletrônico” da UFPE, capaz de detectar metanol em apenas uma gota da bebida. “O nariz eletrônico transforma aromas em dados, que alimentam a inteligência artificial para reconhecer a assinatura de cada amostra”, explicou o professor Leandro Almeida à Agência Brasil.
No boletim mais recente, divulgado em 24 de outubro, foram confirmados 58 casos e 50 permaneciam em investigação, com 635 notificações descartadas. O número de mortes chegou a 15 — nove em São Paulo, seis no Paraná e seis em Pernambuco — e nove óbitos seguiam em apuração em outros estados. Paralelamente, a questão motivou ações do legislativo: em São Paulo, uma CPI começará a ouvir autoridades sobre os esforços contra a falsificação de bebidas, e a Câmara dos Deputados pode votar o PL 2307/07, que prevê tornar crime hediondo a adulteração de alimentos e bebidas.
(*) Fonte: Agência Brasil
