O governo dos Estados Unidos anunciou um acordo estratégico para assumir a posição de maior acionista da MP Materials, empresa […]

EUA tornam-se maiores acionistas de produtora de terras raras para reduzir dependência da China
O governo dos Estados Unidos anunciou um acordo estratégico para assumir a posição de maior acionista da MP Materials, empresa responsável pela única mina de terras raras em operação no país, localizada em Mountain Pass, na Califórnia. A medida faz parte de uma ofensiva liderada pelo Departamento de Defesa para diminuir a dependência norte-americana da China nesse setor crucial para a economia e a segurança nacional.
Minerais essenciais para alta tecnologia e defesa
As chamadas terras raras são um grupo de 17 elementos químicos com propriedades únicas, fundamentais para a fabricação de ímãs permanentes usados em tecnologias modernas como carros elétricos, turbinas eólicas, smartphones, equipamentos médicos e armamentos militares. Dois dos elementos mais estratégicos — neodímio e praseodímio — estão no centro do acordo firmado entre o governo dos EUA e a MP Materials.
Atualmente, a China domina o setor global de terras raras, com cerca de 70% da produção e 90% da capacidade de refino. Esse domínio permite a Pequim controlar preços e pressionar economicamente rivais, o que tem sido fonte de preocupação em Washington, especialmente diante da crescente tensão comercial entre os dois países.
O Departamento de Defesa norte-americano vai investir US$ 400 milhões em ações preferenciais conversíveis da MP Materials, obtendo cerca de 15% de participação na empresa. Além disso, o governo garantirá um preço mínimo de US$ 110 por quilo de óxido de neodímio-praseodímio pelos próximos dez anos. Caso o valor de mercado fique abaixo desse patamar, a diferença será compensada por meio de pagamentos trimestrais. Se ultrapassar o limite, o Pentágono terá direito a 30% do valor excedente.
O investimento também prevê a construção de uma nova unidade de fabricação de ímãs nos Estados Unidos, com previsão de início das operações em 2028. A planta, batizada de “10X”, terá capacidade de produzir 10 mil toneladas métricas de ímãs por ano, atendendo tanto ao setor comercial quanto às necessidades de defesa.
Mudança de rota diante da guerra comercial
A iniciativa integra a estratégia do governo do ex-presidente Donald Trump de fortalecer a cadeia de suprimentos nacional, em resposta às sanções tarifárias impostas por Pequim e à crescente instabilidade comercial. Com tarifas de até 145% sobre produtos chineses e restrições da China ao envio de terras raras, a MP Materials deixou de enviar sua produção para refino no país asiático.
Antes disso, a empresa Shenghe Resources — ligada ao governo chinês — era a principal acionista e cliente da MP Materials. Com a nova política, essa parceria foi encerrada, e a MP passou a alinhar suas operações aos interesses estratégicos dos EUA. O CEO da empresa, James Litinsky, afirmou que o acordo não representa uma nacionalização, mas sim uma parceria público-privada que fortalece o mercado interno. Segundo ele, trata-se de uma resposta ao “mercantilismo chinês” e um passo para garantir liberdade econômica no setor.
Além da participação acionária, o Pentágono também deverá liberar um empréstimo de US$ 150 milhões à MP Materials em até 30 dias, destinado à ampliação da capacidade de separação de terras raras em Mountain Pass.
O acordo surge em meio à escalada das tensões geopolíticas causadas por restrições chinesas à exportação de metais estratégicos. Desde abril, a China exige licenças especiais para exportar sete tipos de terras raras, incluindo o samário — essencial para a fabricação de ímãs resistentes ao calor, utilizados em caças, mísseis e bombas inteligentes.
Esses ímãs são particularmente relevantes para equipamentos militares, como o caça F-35 da Lockheed Martin, que utiliza cerca de 23 quilos de ímãs de samário por unidade. A dependência é tamanha que os Estados Unidos, apesar de possuírem reservas próprias do mineral, não conseguiram desenvolver uma cadeia alternativa de abastecimento em mais de uma década.
Segundo o The New York Times, a recente interrupção das exportações de samário por parte da China revelou uma fragilidade crítica nas cadeias de suprimentos dos EUA e da Europa, especialmente no setor de defesa. Pequim justificou as restrições alegando motivos de segurança nacional e o cumprimento de obrigações internacionais.
Rumo à autonomia estratégica
Com a nova parceria, os Estados Unidos buscam não apenas fortalecer sua base industrial e militar, mas também garantir autonomia em áreas tecnológicas sensíveis. A ampliação da produção nacional de terras raras é vista como um passo fundamental para reduzir riscos geopolíticos, estabilizar o mercado e assegurar o futuro de setores estratégicos — da defesa à energia limpa.
(*) Com informações: Agência Brasil