Por: José Walmir Das muitas construções transformadas da sociedade atual, a organização do trabalho, assim como o próprio trabalho em […]

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Disrupção Tecnológica do Trabalho ou Desumanização?

Por: José Walmir

Das muitas construções transformadas da sociedade atual, a organização do trabalho, assim como o próprio trabalho em si, tornou-se muito mais complexa, aliado ao fator tecnológico, que se tornou muito mais completo e barato, resultando na radicalização da busca permanente por inovação contínua para produtos, processos, sistemas e para as próprias tecnologias mais usualmente utilizadas em cada contexto e fim.

Esse ambiente de trabalho transformado, aliado à percepção distorcida sobre o que é a atividade empreendedora de fato, vocalizada por vários discursos que tentam justificar os processos de precarização, de uberização, de desmonte das leis e dos vínculos trabalhistas como sendo oportunidades inovativas para empreender e para tornar-se patrão de si próprio (Casaqui, 2021), tem influenciado para que milhões de pessoas troquem atividades e empregos formais pelo trabalho “avulso” ou informal, passando a trabalhar por conta própria.

Atualmente o Brasil possui mais de 30 milhões de trabalhadores informais ou pejotizados. Dentre os motivos afirmados para essa informalidade elevada, tem-se os casos em que alguns profissionais são “incentivados” a abrir empresas para poderem prestar serviços para outra empresa contratante.

Estima-se que as “empresas que contratam com carteira assinada têm de arcar com um custo 68% acima do salário pago para cobrir encargos trabalhistas, como FGTS, 13°, férias e INSS, entre outros” (Escola de Administração de São Paulo da FGV; Folha de São Paulo, 2025). Segundo o mesmo estudo, a remuneração dos chamados PJ chega ao dobro ou mais, em relação a quem trabalha com a carteira assinada, pois ao contratar o trabalhador por conta própria com CNPJ e deixar de pagar as obrigações legais, o empregador repassa parte do valor à remuneração do contratado.

 

O segundo motivo alegado, principalmente entre trabalhadores por aplicativos, refere-se à autonomia e à flexibilidade proporcionada por essas atividades. Para muitos, o comando e o controle funcional são percebidos com negatividade tanto para o trabalho em si quanto para sua qualidade de vida.

Para outros, a informalidade é resultado direto do desemprego tecnológico, que vai ampliando o conjunto de trabalhadores que perdem definitivamente seus empregos em razão da substituição permanente de suas tarefas e funções por sistemas inteligentes automatizados, IA e robótica avançada.

Outra situação ainda não estudada em profundidade pode se referir aos trabalhadores que permanecem na informalidade por serem beneficiários de programas governamentais de distribuição de renda, como o Bolsa Família. Ao participar do mercado de trabalho formal, o trabalhador pode ter seu benefício cancelado. Para esses, os “bicos” que fazem servem como ajuda para melhoria de sua renda familiar.

Se por um lado a informalidade está aumentando a renda do trabalhador e melhorando sua qualidade de vida, mesmo que esses trabalhadores não sejam  acobertados por qualquer proteção social relacionada ao seu trabalho, por outro, ela impacta negativamente nos sistemas de previdência social, posto que, sem recolhimentos suficientes, o sistema previdenciário tende a permanecer deficitário, diminuindo sua capacidade para melhorar o valor dos pagamentos com aposentadorias e pensões.

Contudo, o lado mais preocupante da informalidade se refere às novas modalidades tecnológicas de automação, principalmente porque existem fortes evidências de que os trabalhadores substituídos por sistemas automatizados, básicos ou avançados, não estão conseguindo encontrar ocupações adequadas e decentes com a mesma intensidade e proporção de antes (Frey, 2019), em áreas recém criadas ou reorganizadas a partir da nova estruturação da economia digital.

Essa percepção aumenta os questionamentos daqueles que contestam os supostos benefícios dos processos atuais de automação, considerando, ainda, que a incapacidade absoluta dos mercados para absorver um contingente maior de trabalhadores em condições decentes torna necessária a introdução de estímulos dos governos, através da concessão de auxílios permanentes.

Muitos estudiosos entendem que a automação, a reengenharia e a digitalização estão impactando profundamente em vários setores econômicos, e que muitos humanos estão inapelavelmente sendo deixados para trás, de forma intencional ou não. Porém, enquanto os debates políticos não avançam sobre essas modalidades de trabalho informal, duas questões emergem como fundamentais:

As novas tecnologias utilizadas pela maioria das organizações empresariais têm capacidade para manter estáveis os níveis totais de emprego em suas cadeias de trabalho em condições decentes?

Quem e como irá garantir a manutenção da renda desses trabalhadores (informais) quando a velhice ou a doença lhes acometerem?

Essas questões são importantes para que no futuro esses trabalhadores não sejam esquecidos pelas empresas que lhes usaram, ou pelos políticos que os esqueceram em uma “cova rasa”.

*José Walmir é Mestre em Gestão & Liderança e Escritor.

 

**Os textos (artigos, crônicas) aqui publicados não refletem necessariamente a opinião da Div Agência de Comunicação – Portal do Minuto.

 

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