Um dos livros recentes mais cultuados na região que se tornou vitrine para o mundo, em termos de tecnologia, o […]

Dar e receber; um livro excelente

Um dos livros recentes mais cultuados na região que se tornou vitrine para o mundo, em termos de tecnologia, o Vale do Silício, na ensolarada Califórnia, do psicólogo organizacional Adam Grant, Dar e Receber, editora Sextante, chama a atenção pela a clareza do texto e pela riqueza das histórias narradas. De forma bem simples, o autor, discorre sobre qualidades, dificuldades, especificidades, performance, sucesso e fracasso de muitos profissionais do mundo pós-industrial, a partir da classificação das pessoas por competências profissionais em termos de trabalho coletivo. Assim, como o título do livro sugere, no ambiente de trabalho existem os profissionais qualificados como doadores, tomadores e compensadores.nnDoadores, assim como São Francisco de Assis, são aqueles que verdadeiramente se importam com os outros, e colocam o sucesso coletivo, o crescimento do grupo e a necessidade de servir como principal fundamento de sua conduta profissional. Em suma, valorizam excessivamente o outro e as conquistas coletivas.nnOs tomadores, ao contrário, fundamentam sua conduta profissional, em termos de trabalho, crescimento e sucesso, pensando primeiramente em si mesmo, limitando sua “colaboração” e considerando suas conquistas como algo exclusivamente seu. Mas isso não significa que não sejam suficientemente competentes e disciplinados para o trabalho coletivo.nnPor fim, existem os compensadores, que seriam o meio termo entre os que preferem dar e aqueles que desejam apenas receber, e que definem seus relacionamentos e projetos em termos de possibilidade de ganhos, a partir das trocas de “colaboração”.nnSegundo as pesquisas do autor, ao longo da vida, são justamente os doadores, ou seja, aqueles que se importam abertamente com os outros, os profissionais mais bem sucedidos em áreas cuja capacidade de interação de grupos e equipes seja essencial para a construção dos resultados desejados. Os doadores, ao procurarem crescer conjuntamente, acabam produzindo um efeito muito maior na forma como são percebidos, valorizados e seguidos dentro da organização. Em suma, em níveis mais elevados de trabalho, eles acabam adquirindo um carisma muito maior que o próprio poder. Carisma este que é fundamental para o efetivo exercício da liderança.nnA conclusão do autor reforça a ideia de que uma das principais qualidades dos profissionais de alta performance da modernidade seja justamente a capacidade de compartilhamento e de socialização de conhecimento, de sentidos, de atitudes e de sentimentos correlatos a um mesmo projeto de crescimento comumente desejado. Reforça, ainda, a “ideologia” sistêmica, que concebe a vida em termos de sistemas mutuamente dependentes e inevitavelmente conectados entre si. Reforça a noção de nós e eles, de nós com eles e nós também para nós e para eles.nnVivemos em um mundo com tantas tecnologias que o próprio emprego está se tornando solitário e sedentário. O tele trabalho, o trabalho remoto e os serviços de inteligência artificial estão transformando o sentido de nossas vidas no período das oito horas que ficávamos longe de casa e da família – na fábrica ou no escritório – e isso produzirá uma sensação de que podemos fazer tudo sozinhos e isolados, ou de que o nosso melhor amigo seja o nosso próprio notebook. Mas no fim, iremos perceber que além da tela do computador, das redes sociais e das relações falsamente construídas por ambos, existem pessoas como nós mesmos, dispostas a conhecer, pensar, produzir e viver sempre em função do outro. Doando-se e se esforçando para que no lar, na fábrica e na vida em geral, todos tenham as mesmas oportunidades, deixando para cada um, a escolha da oportunidade que melhor se encaixa em seu mundo ideal.nn*José Walmir Monteiro da Silva é escritor, professor e economista.

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