Manaus – Especialistas alertam para a contaminação silenciosa do solo que ainda acontece pelo uso de fossas domiciliares construídas em […]

(Foto: Luzimar Bessa)

Contaminação silenciosa afeta o solo e a saúde da população em Manaus

Manaus – Especialistas alertam para a contaminação silenciosa do solo que ainda acontece pelo uso de fossas domiciliares construídas em condições precárias em várias zonas de Manaus. De acordo com levantamento do Censo 2022 sobre saneamento,  realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 99% dos domicílios na capital possuem banheiros próprios, mas 5,81% dos lares ainda possuem sanitários ou buraco para despejos no terreno.

O Plano Nacional de Saneamento Básico considera regular duas modalidades adequadas, a fossa séptica ou fossa filtro não ligada à rede. Entretanto, ambas apresentam risco de contaminação do solo, além das construídas fora dos padrões. O professor associado do Departamento de Geociências da Universidade Federal do Amazonas (Degeo-Ufam), Ingo Daniel Wahnfried, explica que as fossas são fonte de contaminação e carregam essas impurezas para o lençol freático,  a água que está no subsolo e abastece rios e lagos.  Com isso, o subsolo fica com vasta carga orgânica e também bactérias. o especialista  defende a extinção desse meio de descarte de efluentes, o que pode colaborar para a regeneração e descontaminação do chamado aquífero freático.

“Uma fossa, ela contamina uma área no entorno dela com carga orgânica e bactérias. Então, basta desativar as fossas e, obviamente, conectar aquele domicílio a um sistema de coleta de efluentes líquidos, que aí eu vou ter o processo natural de descontaminação desse aquífero freático”, explicou o professor .

As fossas são ainda um depósito de bactérias com o risco de proliferação de insetos e doenças. De acordo com o especialista em engenharia sanitária e ambiental, Semy Ferraz, a utilização desta alternativa de descarte  pode colocar em risco a saúde pública.

“Se a gente pensar de forma individual às vezes a gente acha que não precisa, eu faço a minha fossa e resolvo o meu problema! Só que a fossa vai contaminar o lençol freático e você vai ter um depósito de doenças na sua casa (…) O processo das fossas são as  bactérias digerindo a matéria orgânica que tem ali existente, então isso bota em risco a saúde pública das pessoas que moram não só no imóvel, no entorno, então por isso que essa adesão (conexão com a rede de tratamento de esgoto) ela é importante”, disse Semy.

O especialista reforça que a saída é extinguir este processo eliminando as estruturas e se conectando uma rede de esgoto e tratamento adequados. Ingo Wahnfried também orienta para a conexão com o sistema de coleta de efluentes com o objetivo de iniciar um processo de descontaminação.

“Então basta fazer a investigação, ver onde que estão as contaminações e, sabendo os locais, conectar esses domicílios a um sistema de coleta de efluentes e desativar as fossas, principalmente em zona urbana, isso é bem importante. E aí, naturalmente, o processo de descontaminação já ocorre”, aponta Ingo.

Na capital, as Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs), realizam esse trabalho de coleta e tratamento de efluentes. O sistema disponibiliza à população, uma rede coletora para interligação com as casas. O trabalho é realizado pela Águas de Manaus, por meio do ‘Trata bem Manaus’.

“O Trata Bem Manaus é um programa de expansão da cobertura da rede de esgoto, coleta e tratamento. Então, nós temos hoje uma cobertura aproximadamente de 31% da cidade de Manaus. Estamos expandindo a execução desse plano que prevê chegar em 2030 com 80% de cobertura e em 2033 com 90% de cobertura, coleta e tratamento. O programa consiste na construção de redes e ligações domiciliares e também o tratamento. Então, nós estamos construindo estações de tratamento e fazendo a expansão de rede em regiões onde já tem o tratamento, principalmente na região da Timbiras, na região norte de Manaus e na região do Educandos, além da construção de outras estações”, explicou Semy, que também é gerente de Responsabilidade Social da concessionária Águas de Manaus.

As ETEs são direcionadas para receber determinados tipos de efluentes, porque os processos de tratamento são específicos para os líquidos e dejetos que recebem, explica o professor da Degeo-Ufam. Segundo o especialista, a água que retorna ao corpo hídrico (rios ou lagos)  tem que ter a qualidade adequada e permitida por lei, no mesmo nível de qualidade do próprio corpo hídrico.

“Existem as regras definidas pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), que definem qual é o tipo de qualidade de água para aquele corpo hídrico, por exemplo, o Rio Negro, vai receber a água que sai da estação de tratamento de efluentes. Aquela água que está recebendo tem boa qualidade, sim, tá? Isso é fundamental para que a gente saiba que o esgoto que é coletado. Ele está sendo tratado da forma adequada, finaliza.

A concessionária Águas de Manaus faz o alerta sobre a importância da conscientização de moradores para o descarte correto do esgoto e conexão ao sistema de saneamento da capital, a fim de promover a saúde e o meio ambiente da população.

“Não adianta  fazer a rede de esgoto, ter cobertura, se as pessoas não ligarem adequadamente. Eu não tenho os dois efeitos mais importantes da obra de esgoto, que é a questão ambiental, e por outro lado a questão de saúde, a questão sanitária. A gente precisa das pessoas ligadas (à rede de esgoto), precisamos de todos”, finaliza.

O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) orienta a população para denúncias ligadas a ilícitos ambientais. As pessoas podem comparecer diretamente à sede do órgão, que fica na avenida Mário Ypiranga, 3280 – Flores, ou enviar a denúncias por meio do endereço de e-mail denuncia@ipaam.am.gov.br.

Fonte: D24am

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