O presidente da república e os generais de gabinete que compactuam com as ideias ultrapassadas que ele carrega, afirmam sistematicamente […]

Amazônia, de último capítulo do Gênesis ao primeiro lugar no inferno

O presidente da república e os generais de gabinete que compactuam com as ideias ultrapassadas que ele carrega, afirmam sistematicamente que a Amazônia pertence aos brasileiros, sem contudo, esclarecer a quais brasileiros ela realmente pertence: aos que trabalham arduamente e vivem na Amazônia e para a Amazônia, ou aqueles que traficam armas, drogas, riquezas minerais e biológicas e cuja missão existencial parece ser, acima de tudo e com Deus no coração, saquear a floresta de forma incondicional, sem se importar com as almas humanas que dela dependem para viver também.

Há quase 100 anos, já esbravejava o grande político amazonense, Álvaro Maia, que “o Amazonas devia o seu progresso exclusivamente ao esforço próprio… sendo um filho devotado que sempre contribuiu para o conforto da casa paterna e que de seus pais não recebeu sequer a instrução primária ou profissional”. Se proferisse seu discurso hoje, Álvaro Maia afirmaria que o Brasil está se lixando para os problemas reais das populações amazônicas, sendo que, o que realmente lhe importa e às suas elites, são as riquezas expropriáveis da floresta, preferencialmente, livres dessa “gente feia”.

Já em 1940, quando foi interventor do Estado, Álvaro Maia e parte da elite amazonense, tiveram que ouvir da boca do presidente Getúlio Vargas, no famoso discurso do Rio Amazonas, que “o Amazonas deixaria de ser um simples capítulo da história da terra e se tornaria um capítulo da história da civilização”, talvez, tentando igualar seu discurso demagógico àquele proferido anteriormente por Euclides da Cunha, quando afirmou que a Amazônia seria “o último capítulo do jardim do Éden”…

Naquela ocasião, Getúlio Vargas veio informar aos amazonenses, dentre outras coisas, que ele havia “penhorado” a Amazônia ao governo norte americano e que, a floresta seria ocupada temporariamente por aquele país, para fornecimento da borracha necessária para se vencer a guerra contra o nazismo, em decorrência do Japão ter se apossado dos seringais asiáticos que antes supriam a demanda por látex para fabricação de pneus. Naqueles anos negros, enquanto meus avós trabalhavam duramente tentando não morrer para cumprir o acordo que o governo brasileiro assinou por eles, várias obras de infraestrutura foram sendo construídas com os recursos da contrapartida financeira norte-americana, via Acordo de Washington, nas cidades do sudeste brasileiro, inclusive a tão sonhada Companhia Siderúrgica Nacional, no Rio de Janeiro.

Os imensos recursos financeiros repassados pelos norte-americanos ao governo brasileiro fizeram com que a Amazônia voltasse a ser considerada uma região estratégica para o Brasil, porém, ao final da guerra, infelizmente, restou-nos mais uma vês a tristeza, a solidão e o abandono da pátria-mãe que, por questões absolutamente imorais, relegou mais uma vez os seus filhos às desgraças do próprio destino.

Passados todos esses anos, meu temor é que o presidente atual, parafraseando Getúlio Vargas, considere que o Amazonas jamais poderá ser um simples capítulo da história da terra e, muito menos um capítulo da história da civilização, devendo se conformar e acostumar-se como sendo apenas uma estória infeliz nos anais do inferno.

Enquanto pensamos sobre essas questões o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips continuam desaparecidos e, quem sabe, tentando permanecer como um capítulo VIVO, da história da civilização na Amâzonia.

 

Deixe um comentário