Ah, o Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, um local que parece mais um cenário de filme de terror do […]

Hospital 28 de Agosto: no caos da gestão, ser herói é viver
Ah, o Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, um local que parece mais um cenário de filme de terror do que de cuidados médicos. Mas, ao contrário das produções de ficção, aqui os monstros são bem reais: falta de insumos, pacientes em corredores e uma gestão que mais parece uma piada de mau gosto. E quem sou eu nesse circo de horrores? Um enfermeiro, claro. O herói invisível que, com luvas emprestadas e olhar cansado, tenta salvar o que ainda resta de dignidade em meio ao caos.
Ontem, mais uma vez, vi uma idosa de 79 anos sofrendo. Imagine o sofrimento de alguém que, ao ser internado com uma simples infecção urinária, acaba desenvolvendo uma fístula retovaginal, uma condição que exige cirurgia urgente. Mas, claro, aqui no 28 de Agosto, o tempo é algo relativo. O tempo, para nós, é um luxo que não podemos pagar. A médica chegou tarde, a intervenção foi mais demorada do que deveria e, no final, a paciente continuou à espera. Só que a espera aqui não é só para quem está doente, mas também para quem está tentando salvar vidas.
E o que dizer das condições materiais? Se você acha que hospital é lugar de ter tudo à disposição, venha dar uma olhada na nossa realidade. Falta luva, falta máscara, falta tudo. Às vezes, o que não falta é o desespero. E os acompanhantes? Ah, sim, eles também são heróis nessa trama. No final de semana, os coitados tiveram que passar fome. Sem refeições, sem qualquer estrutura, com os olhos desesperados tentando entender como um hospital público com contrato de bilhões pode ser tão despreparado.
E, claro, a tal da AGIR, a nova gestão, que entrou em cena como um salvador da pátria. Se o problema era a falta de médicos, então basta demitir cirurgiões ortopédicos experientes e colocar novatos que, bem… tentam, mas não conseguem segurar as pontas. Já pensou o que é trabalhar em um lugar onde o pagamento está três meses atrasado e a única coisa que se tem são promessas vazias? Ah, mas a Secretaria de Saúde, que beleza, está lá dizendo que tudo segue “normalmente”. Pois é, o normal aqui é ver pacientes jogados pelos corredores, como se saúde fosse uma questão de sorte, e não de gestão.
Então, aqui estou eu, um enfermeiro tentando lidar com o impossível, enquanto vejo médicos e pacientes tentando fazer o mesmo. No final das contas, ser herói no 28 de Agosto é só sobreviver, porque, se você não for forte o suficiente, o sistema, esse monstro alimentado por incompetência, vai te engolir.
Então, aqui estamos nós, os verdadeiros heróis. Aqueles que enfrentam a luta diariamente. Somos invisíveis, mas estamos lá, com nossas mãos calejadas e nossos corações batendo mais rápido, na esperança de que, ao menos, o amanhã nos traga um pouco de dignidade, para que possamos, de fato, ser os heróis que o Amazonas precisa.
Sid Sheldowt é escritor, poeta e compositor manauara