O Dia Internacional das Mulheres foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, com o objetivo de destacar […]
Más condições de trabalho e desigualdade, conheça a origem operária do dia das mulheres
O Dia Internacional das Mulheres foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, com o objetivo de destacar a luta e as conquistas das mulheres na política e nos avanços sociais, estabelecendo o Ano Internacional das Mulheres. Apesar dos avanços, ainda há muito a conquistar, especialmente no que diz respeito à desigualdade de gênero.
O 8 de março se distingue por não ter surgido como uma data comercial, mas sim a partir da luta feminina por política de inclusão e justiça social. Embora a data tenha sido estabelecida na década de 1970, os eventos que a motivaram ocorreram anteriormente, com manifestações contra as más condições de trabalho registradas desde a primeira década do século XX.
Atualmente, a data é marcada por reivindicações por igualdade de gênero e manifestações em todo o mundo, retomando o espírito das origens da luta das mulheres por melhores condições de trabalho na Europa e nos Estados Unidos.
No início do século XX, muitas mulheres se juntaram ao movimento socialista para exigir melhores condições de trabalho, que eram significativamente inferiores às dos homens daquela época.
Fatos históricos e cronologia
1908 – No dia 26 de fevereiro de 1908, cerca de 15 mil mulheres marcharam nas ruas da cidade de Nova York em uma grande manifestação contra as péssimas condições de trabalho nas fábricas norte-americanas e exigindo, além de melhorias no setor produtivo, diminuição da jornada de trabalho. Possivelmente, esse foi o início da luta que, no decorrer dos anos, possibilitou conquistas políticas e sociais das mulheres.
Para termos uma ideia da relação da classe operária e empresarial da época, haviam jornadas que chegavam a 16h de trabalho por dia, seis dias por semana e, não raro, incluíam também os domingos.
Nessa passeata teria sido celebrado pela primeira vez o ”Dia Nacional das Mulheres” americano.
1910 – Não indiferente ao que acontecia nas fábricas dos EUA, o movimento operário também crescia sob a mesma pauta na Europa. Em agosto de 1910, a alemã Clara Zetkin propôs, em reunião da Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, a criação de uma jornada de manifestações.
Sendo uma das pioneiras nos estudos sobre os direitos das mulheres no país, a socióloga Eva Blay, em entrevista concedida à BBC News Brasil, em 2018, destacou que a proposta não se tratava da criação de uma data específica, mas no surgimento de um movimento sindical pautado nas reivindicações das mulheres.
“Não era uma questão de data específica. Ela fez declarações na Internacional Socialista com uma proposta para que houvesse um momento do movimento sindical e socialista dedicado à questão das mulheres”, explicou.
“A situação da mulher era muito diferente e pior que a dos homens nas questões trabalhistas daquela época”, acrescentou Blay, que é coordenadora da USP Mulheres.
A proposta de Zetkin, segundo os registros que se tem hoje, era de uma jornada anual de manifestações das mulheres pela igualdade de direitos, sem a determinação de uma data específica.
1911 – Em 19 de março de 1911, foi celebrado o primeiro dia oficial das mulheres. Contudo, 0 8 de março prevaleceu, devido à série de protestos contra a fome e a Primeira Guerra Mundial, seis anos mais tarde.
1917 – Em 1917 uma onda de manifestações tomou conta do cenário político russo. Um grupo de operárias saiu às ruas no dia 8 de março, conforme o calendário gregoriano, protestando contra o aumento da fome e contrário à Primeira Guerra Mundial. Tais manifestações levaram aos fatos que possibilitaram a Revolução Russa.
Cabe ressaltar que em 1918, os soviéticos abandonaram o antigo calendário russo e adoram o gregoriano. Após a revolução bolchevique, o 8 de março foi oficializado entre os soviéticos como celebração da “mulher heroica e trabalhadora”.
1975 – A ONU estabelece o 8 de março como o Dia Internacional das Mulheres, para lembrar da luta e das conquistas das mulheres em questões políticas e sociais.
De acordo com Eva Blay, o dia tem importância histórica porque trouxe à discussão um problema que até hoje segue sem resolução.
“Esse dia tem uma importância histórica porque levantou um problema que não foi resolvido até hoje. A desigualdade de gênero permanece. Em muitos lugares, as condições de trabalho ainda são piores para as mulheres (do que para os homens)”, pontuou Blay.
Aspecto comercial
No mundo inteiro, a data ainda é comemorada, mas ao longo do tempo ganhou um aspecto “comercial” em muitos lugares.
Em diversos países, o dia 8 de março é considerado feriado nacional. Na Rússia, as vendas nas floriculturas se multiplicam nos dias que antecedem a data, já que ali homens costumam presentear as mulheres com flores na ocasião.
Na China, as mulheres chegam a ter metade do dia de folga no 8 de Março, conforme é recomendado pelo governo – mas nem todas as empresas seguem essa prática.
Já nos Estados Unidos, o mês de março é um mês histórico de marcha das mulheres.
No Brasil, a data também é marcada por protestos nas principais cidades do país, com reivindicações de grupos sociais sobre igualdade salarial e protestos contra a criminalização do aborto e a violência contra a mulher.
Incêndios em fábricas e mortes – mitos e fatos
Em 8 de março de 1857, 129 operárias morreram carbonizadas em incêndio de uma fábrica têxtil na cidade de Nova York. Supostamente, o sinistro teria sido causado pelo proprietário da fábrica como forma de reprimir às greves das operárias. Contudo, de acordo com um artigo do Parlamento Europeu publicado em 2017, essa história é falsa.
Além disso, o jornal Washington Post divulgou que é falsa a história da primeira greve feita por mulheres em 1857. A notícia não circulou nos jornais e publicações da época, afirma o diário.
”Mesmo que esta história seja muito comovente e trágica, não há registros deste incidente: a origem desta lenda pode vir de outro desastre ocorrido na Fábrica de Camisas Triangle em 25 de março de 1911. Na verdade, 146 mulheres – a maioria jovens imigrantes – trabalhavam naquela fábrica quando começou o incêndio. Muitas dessas pessoas não conseguiram fugir porque as portas estavam trancadas para evitar que fizessem pausas não autorizadas, por isso morreram nas chamas ou saltaram pelas janelas tentando escapar’, diz o artigo.
Outra história, muito conhecida no Brasil, relata acerca de um outro incêndio que ocorreu no dia 25 de março de 1911, também em Nova York. Na ocasião, a Triangle Shirtwaist Company sofreu com incêndio de enormes proporções, deixando 146 vítimas fatais, sendo 125 mulheres e 21 homens, a maioria dos mortos eram judeus.
As causas da tragédia estariam ligadas às péssimas instalações elétricas associadas à composição do solo e das repartições da fábrica, além da grande quantidade de tecido no local. Mediante a tudo isso, é conhecido que alguns proprietários de fábricas trancavam os funcionários durante o expediente como forma de conter motins e greves. Quando a Triangle pegou fogo, as portas estavam fechadas.
De acordo com o artigo do Parlamento Europeu, o ”incidente teve um enorme impacto na comunidade e mais de 100.000 pessoas participaram na marcha fúnebre das vítimas”.
Vale ponderar que, a luta das mulheres e o 8 de março estão estritamente ligados aos movimentos operários do início do século XX, ocorridos nos EUA e Europa. O incêndio da Triangle Shirtwaist Company, apesar de trágico, não é o fator preponderante para a oficialização da data.
*Esta matéria contém informações da BBC New Brasil e do artigo – Dia Internacional da Mulher: história, mitos e tradições, do Parlamento Europeu.