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Após meses de protestos, Irã anuncia fim da polícia da moral
O procurador-geral do Irã anunciou o fim da polícia moral após quase três meses de protestos desencadeados pela morte da jovem de origem curda Mahsa Amini, detida por essa corporação por supostamente não usar o véu islâmico de forma correta, violando o rígido código de vestimenta do país.
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“A mesma autoridade que estabeleceu essa força policial a dissolveu”, disse o procurador-geral iraniano, Mohammad Jafar Montazeri, na noite de sábado, segundo informação da agência de notícias Isna divulgada neste domingo (04/12). Ele afirmou que a polícia da moral não estava sob a autoridade do Judiciário, que “continua a monitorar ações comportamentais no nível da comunidade”.
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Nas redes sociais há notícia de que a polícia da moral tem sido vista cada vez menos nas ruas. A corporação é vinculada ao Ministério do Interior, do qual inicialmente não houve comentários.
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O anúncio, visto como um gesto em direção aos manifestantes, ocorre um dia depois que as autoridades anunciaram que estão revisando a lei de 1983 que obriga as mulheres a usarem o hijab, véu islâmico.
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A regra foi adotada quatro anos após a Revolução Islâmica de 1979, que derrubou a monarquia do xá.
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Protestos continuam
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O Irã está envolvido em uma onda de protestos desde a morte em 16 de setembro de Amini, uma iraniana de origem curda de 22 anos que morreu na prisão após ser detida pela polícia de moral por não usar o véu corretamente.
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A lei estabelece que tanto as mulheres iranianas quanto as estrangeiras, independentemente de sua religião, devem usar véu em seus cabelos e usar roupas largas em público.
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As autoridades afirmam que a morte de Amini se deveu a problemas de saúde, mas segundo a família ela morreu após ser espancada.
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Desde então, as mulheres lideram os protestos, gritando palavras de ordem contra o governo, removendo e queimando seus véus de cabeça. “Mulher, vida, liberdade” é um dos lemas que mais se tem ouvido.
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O movimento continua, apesar da repressão das autoridades, que deixou centenas de mortos. Neste domingo, manifestantes convocaram para uma greve de três dias nesta semana.
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Polícia da moral
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Depois de 1979, “Comitês da Revolução Islâmica”, sob a Guarda Revolucionária, patrulharam para impor códigos de vestimenta e “moral” no Irã. Mas a polícia da moral, conhecida como Gasht-e Ershad [patrulhas de orientação], foi criada sob o presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad [de 2005 a 2013] para “espalhar a cultura da decência e do hijab”, o véu feminino.
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Suas unidades são formadas por homens de uniforme verde e mulheres que usam um xador preto, uma vestimenta que cobre tudo menos o rosto. As primeiras patrulhas entraram em ação em 2006.
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O Gasht-e Ershad foi criado na época pelo Conselho Supremo da Revolução Cultural, hoje liderado pelo presidente ultraconservador Ebrahim Raisi, eleito em 2021. Em julho, Raisi pediu a mobilização de “todas as instituições para fortalecer a lei do lenço na cabeça”, afirmando que “os inimigos do Irã e do Islã querem minar os valores culturais e religiosos da sociedade”.
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O papel dessa polícia mudou ao longo dos anos, mas sempre gerou divisões na classe política. Sob o presidente moderado Hasan Rohani, no poder de 2013 a 2021, era comum ver mulheres de jeans justos e véus coloridos. Mas seu sucessor, o ultraconservador Ebrahim Raisi, em julho pediu a “todas as instituições estatais” que fortaleçam a aplicação da lei do véu.
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“Os inimigos do Irã e do Islã” querem “minar os valores culturais e religiosos da sociedade espalhando a corrupção”, declarou na época. As mulheres que violassem esse rígido código de vestimenta corriam o risco de serem presas pela unidade policial.
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Controvérsia do véu
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O promotor Montazeri anunciou no sábado que “o Parlamento e o Judiciário” estão examinando a questão de tornar o véu obrigatório, embora não tenha especificado se a lei será modificada.
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A questão do véu ainda é muito delicada na República Islâmica. De um lado estão os conservadores, que defendem a lei de 1983. Do outro, os progressistas, que querem que as mulheres possam decidir livremente se querem ou não usá-lo.
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Desde o início do movimento de protesto, mais e mais mulheres têm saído às ruas sem o lenço na cabeça, especialmente na área mais rica ao norte da capital, Teerã.
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O principal partido reformista do Irã apelou em 24 de setembro pela suspensão da obrigatoriedade do uso do véu.
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O Irã acusa os Estados Unidos e seus aliados, assim como seu arqui-inimigo Israel, de estarem por trás dos protestos, que chama de “motins”.
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Centenas de mortos nos protestos
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Neste sábado, o Conselho de Segurança do Irã informou que “mais de 200 pessoas perderam a vida” durante os protestos no país, e informou que as forças de segurança atuarão de forma mais ativa em qualquer manifestação.
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O órgão, que está vinculado ao Ministério do Interior, indicou que as 200 mortes aconteceram em “ataques terroristas” durante os distúrbios, sendo as vítimas “perturbadores e elementos contrarrevolucionários armados, integrantes de grupos separatistas”.
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Essa é a primeira vez desde o início dos protestos que o Irã divulga uma contagem oficial de mortos. ONGs estrangeiras, como a Iran Human Rights, que tem sede em Oslo, na Noruega, apontam que o número de mortos é de 448, diante da repressão policial.
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Além disso, ao menos 2 mil pessoas foram acusadas por diversos crimes, sendo que seis delas foram condenadas à morte.
nCom informações: A Críticann
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