Jared Diamond, em seu clássico Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso -, considera que os […]

Colapso – Como as Sociedades Conseguem Fracassar?

Jared Diamond, em seu clássico Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso -, considera que os principais motivos que levam as sociedades ao fracasso, após períodos de sucesso, são as mudanças climáticas, vizinhos hostis, parceiros comerciais amistosos e a incapacidade de resolver problemas ambientais…nnRelacionando rapidamente algumas questões, a Amazônia parece estar caminhando a passos largos em direção ao colapso que, segundo o autor, é o passo final após a consolidação do período de declínio.nnTomando-se por base de comparação a política econômica liberal ambígua do governo Bolsonaro que, se por um lado age de acordo com as recomendações econômicas do neoliberalismo mais ortodoxo em relação ao Polo Industria de Manaus, por outro, mantém subsídios pesados ao agronegócio do Centro-Oeste do país e tenta interferir diretamente na política de preço dos setores que estão mais inflacionados, característica esta que era primordial nos modelos econômicos socialista-marxistas do antigo bloco soviético, logo, antiliberais.nnnnEssa ambiguidade, leva-nos a acreditar que a Região Amazônica como um todo está fortemente desprestigiada pelo governo federal, e por muitos cidadãos amazonenses que abertamente concordam com as políticas econômicas “depreciativas” que diminuem a capacidade de manutenção e de expansão do modelo econômico mais representativo do nosso estado, argumentando, dentre outras coisas, que os efeitos de encadeamento desse modelo são mínimos na região e que umas das alternativas para essa condição seria o desenvolvimento da indústria do turismo, nossa vocação natural, além da expansão do extrativismo florestal e mineral e de negócios voltados à economia 4.0, especificamente em relação à biotecnologia e à bioeconomia.nnO único problema desses defensores é que eles não informam como, quando, através de que ou de quem, o Amazonas poderá sustentar economicamente seus mais de 4 milhões de habitantes caso a Zona Franca de Manaus seja efetivamente liquidada. Neste artigo, comentarei apenas sobre o fator turismo.nnExistem muitos fatores que motivam as pessoas a viajar para determinados locais, dentre os fatores básicos, encontram-se a questão dos preços, tipos de acesso e acomodações, paisagens, culinária e cultura, segurança, tranquilidade e comodidade.nnEm relação ao nosso estado, a maioria das pessoas que deseja visitá-lo, obviamente o faz pelo desejo de conhecer as belíssimas paisagens amazônicas, a fauna e a flora únicas, a pesca e a cultura “mística” do caboclo-índio amazônico e, talvez, os símbolos históricos da Manaus da belle époque: teatro, mercado, porto…nnAí, incluindo na análise o pronunciamento velado das autoridades brasileiras sobre os assassinatos do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips que, por vários meios, canais e personas públicas, afirmaram que foram eles – os que morreram – os culpados pelas suas próprias mortes, pois assumiram o risco ao querer “turistar” em uma região dominada por várias quadrilhas de criminosos perigosos que o Estado não tem qualquer controle ou capacidade de combatê-los com força, dureza e eficiência.nnA partir disso, deixo as seguintes perguntas:nnQuem, em sã consciência, viaja a turismo para uma região onde as próprias autoridades sugerem que nem os cidadãos nacionais devem frequentar?nnComo o estado do Amazonas pode ter uma indústria do turismo gigantesca, rentável e escalável, quando ele não se responsabiliza pela vida dos cidadãos do mundo que porventura desejarem conhecer suas belezas naturais, sua gente e seus costumes?nnEnquanto a ZFM se desmancha e milhares de pessoas passam a viver do subemprego, ou de nenhum trabalho, as quadrilhas organizadas se oferecem como meio útil para utilização da mão de obra inutilizada pelo sistema econômico formal, que lentamente vai se desmanchando.nnJosé Walmir é Escritor, Economista e Palestrante

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